terça-feira, 9 de setembro de 2008

Matemática Improvável

Saudações, Mochileiros das Galáxias!

Era mais uma tarde chuvosa em 1953, na Universidade Federal do Babaquistão, enquanto Bartholomeu Banalick lecionava sua aula de Geometria Analítica para a turma de ingressantes do curso de Física. Banalick, que era colega de Mohammed Marmeloff na hora do almoço, acompanhou de perto o processo de surgimento da Ciência Hipotética e agora estava ouvindo de seu colega o desenvolvimento dos seus trabalhos de Física Hipotética, enquanto comia um sandwich com manteiga babaquistanesa.

Banalick nunca se interessou pelo trabalho de Marmeloff, que achava uma perda de tempo remunerada fazer experiências hipotéticas com felinos hipotéticos, mas respeitava Marmeloff por fazer isso nas horas vagas, ao invés de divagar com seu cérebro sobre a "Teoria da Grande Unificação", que conscistia em resolver palavras-cruzadas e caça-palavras usando o mesmo método, até então desconhecido, que era o que Banalick fazia durante alguns intervalos da universidade.

A turma de Física de 53 era formada por 4 alunos babaquistaneses, um número baixo se comparado com os 7 alunos da turma do ano passado. Essa baixa é muitas vezes atribuída a Marmeloff, que por causa da sua tese sobre a Hipótese de Murphy, fez a Universidade Federal de Babaquistão perder o quase inexistente prestígio que tinha no meio acadêmico mundial. Marmeloff ainda tinha seu emprego pois conseguiu de forma inédita que a Universidade Federal do Babaquistão ganhasse uma citação num artigo de rodapé de um jornal internacional, intitulado "Os formadores de idiotas".

Na aula de Geometria Analítica em questão, Banalick estava entediado. Explicando sobre círculos para os 2 alunos que ainda estavam acordados, ele fez na lousa o seguinte desenho, com o centro e o raio da circunferência:


A circunferência e auto-caricatura de Banalick


Banalick definitivamente era um péssimo desenhista e sabia disso. Depois de olhar para aquilo por algum tempo, virou para a sala e disse, apontando para sua arte:

-Isso é uma circunferência, com seu centro e seus raios, que são a metade do seu diâmetro...

Depois de ver o sinal de concordância dos 2 alunos e de um terceiro, que acabara de acordar, Banalick virou para o desenho novamente e viu algo que não tinha visto da primeira vez que o olhou. Ficou estático por alguns instantes e num momento de genialidade, saiu correndo da sala de aula, pegou seu carro, foi para casa e ficou horas escrevendo coisas numa folha de papel. Os alunos, desolados, desistiram do curso e foram fazer Pedagogia numa faculdade fora do país. Anos depois se formaram e se tornaram professores relápsos.

Alguns meses depois, numa palestra na Universidade Federal do Babaquistão, Banalick subiu no palco, com as folhas de papel que havia escrito, pegou um giz e fez na lousa o mesmo desenho do círculo mal-feito:

Banalick e seu incrível talento de fazer sempre desenhos ruins


Virou para a platéia de matemáticos e disse:

-Isso é uma circunferência, com seu centro e seus raios, que são a metade do seu diâmetro...

A platéia concordou. Eles endenderam que Banalick não sabia desenhar, como a maioria daqueles matemáticos, que já fizeram desenhos bem piores que ele, então, acharam normal chamar aquilo de círculo. Banalick, então, continuou:

-Logicamente, isso não é uma circunferência. Mas o fato de ser consenso entre todos que isso pode ser tratado como um círculo, me faz chegar à conclusão que qualquer figura pode ser considerada uma circunferência, desde um triângulo equilátero, até um desenho bidimensional de uma ameba de férias na Lagoa do Tubarão Babaquistanês Voador.

Os matemáticos ficaram confusos, mas Banalick continuou:

-Este também não é o centro real deste círculo, logo os seus raios não têm todos o mesmo tamanho, nem o seu diâmetro está correto. Porém, como também é consenso que este pode ser o centro desta figura, chego a conclusão que posso colocar o centro em qualquer lugar, até fora da figura e dizer que o raio é maior que o diâmetro, ou talvez na sua borda, e afirmar que eles têm o mesmo tamanho.

Os matemáticos ficaram revoltados com o discurso de Banalick e sairam da palestra sem discutir a suposta teoria. Ele por um bom tempo tentou argumentar com os diretores da Universidade Federal do Babaquistão, mas nem eles sequer queriam publicar o seu trabalho. Tentou também explicar para sua mãe a idéia, mas ela caiu no sono depois de 4 segundos de explicação. Banalick estava desolado.

Finalmente, na hora do almoço, Banalick resolveu contar a Marmeloff sobre sua descoberta. O físico hipotético ficou impressionado com o teorema e argumentou que ele era uma aplicação na matemática do método hipotético desenvolvido por ele. Banalick, então, trabalhou nesta hipótese, e reescreveu seu trabalho com o nome de Teorema do Círculo Hipotético. Por ser uma ampliação do trabalho de Marmeloff, que era minimamente mais respeitado na UFB que os outros, os diretores da universidade resolveram publicar a obra de Banalick.

Posteriormente, Banalick desenvolveu outros trabalhos de matemática usando o método hipotético, que ficaram conhecidos como as precursoras da área de Matemática Improvavel, que recebeu este nome devido a um comentário pejorativo feito por Krammer Crithik em sua coluna no jornal Diário Babaquistanês: "Isso não é Matemática! Ela é Improvável!". Banalick e Marmeloff se tornaram colegas de almoço e de algumas obras da Ciência Marmelística, até que, eventualmente, se separaram, por não agüentarem mais comer sandwiches com manteiga babaquistanesa na hora do almoço.

A mãe de Banalick, por causa dos trabalhos do filho, nunca mais teve problemas de insônia.

"Num sistema hipotético, uma figura geométrica F hipotética, com n dimensões hipotéticas, pode ser uma figura hipotética qualquer, independente de suas características hipotéticas particulares, pois, hipoteticamente, todas as figuras hipotéticas compartinham hipoteticamente todas as suas caracteristicas hipotéticas com todas as outras figuras hipotéticas do sistema hipotético. Ou seja, nesse sistema hipotético, todas as figuras hipotéticas nele contidas são igualmente hipóteses."

Bartholomeu Banalick, Teorema do Círculo Hipotético

Continuar o trabalho de Banalick sobre Matemática Improvável e desenvolver a Ciência Marmelística é o objetivo deste Departamento e do Instituto de Marmelada Científica.

Bom Futuro, passar bem e que a Matemática Improvável deixe os seus cérebros crocantes no leite!

Um comentário:

Tatiana C. Mendes disse...

Não entendo muito de matemática... Li todo o seu texto (conto?) e fiquei com uma série de questionamentos, a principios pensei ser uma simples estória, depois pensei ser um fato que realmente ocorreu, estes pesquisadores sempre tem histórias confusas acerca de suas teorias... Enfim, gostei do desfecho, e gostei da dúvida que me provocou... E continuo curiosa! rs

Abraços,
Tatiana